Tuesday, May 23, 2006

Mercado vende a alma

provider: Souldivers + dj Soulid
spot: Clube Mercado
time: 2330
dose: 70 mins

Houve Soul no Mercado para dar e vender. Foi um espectáculo contagiante que ninguém ficou indeferente, num crescendo de emoções. Desde Ursula Rucker, a Erykah Badu tudo a bater certo com os corações...e as ancas com Outkast e Kool & the Gang. Tudo de bom vale nas noites bmusic. A anteceder o concerto um pequeno set das tendências habituais no bmusic: A bit of hip-hop n funk. A touch of soul... And all that jazz.

Vai haver mais mergulhos neste Soul imenso...estejam atentos ao bmusic.

Saturday, May 06, 2006

Tropicalismo português

provider: Tom Zé
spot: Auditório da Culturgest
time: 2130
dose: 120 mins


Tom Zé é daqueles brasileiros longe do universo brasileiro massifivamente difundido por ondas de rádio e via fibra óptica nas televisões e algumas rádios.

De Tom Zé pouco sabia, sem ser o título do seu anterior trabalho que já não me recordava. É daquelas oportunidades em que confiamos em duas coisas, no bom gosto de amigos e no controlo de qualidade de uma entidade fantástica.

Apesar do cansaço acumulado de uma semana pesada, é impossível ficar indiferente a Tom Zé. Ele tem algo de fantástico que une gerações e pessoas de vários backgrounds - consciência. Daquela consciência vicentina, que nos faz rir da ignorância sobre um modo de estar, um modo de viver, um modo de ver o mundo. Tom Zé sobreviveu à ditadura no Brasil (este trecho de história já apareceu em algumas novelas) e explicou como a forma das canções afectavam o estado de poder instituído referindo-se a outros cantautores magníficos como Gilberto Gil ou Caetano Veloso. Ele pertence á mesma geração mas a um movimento diferente, o Tropicalismo!

Da Tropicália ficou-se a saber que tem tataravôs moçárabes, celtas , poesia provençal embalada no sono em Portugal, que a envia concentrada numa cápsula que explodiu com músicas urbano-sertanejas com um toque erudito na composição.

Tom Zé foi prestando depoimentos, ensinando e justificando cada tema, enquadrando-o num contexto social e histórico de reconhecimento da influência portuguesa no nordeste brasileiro. A semente moçárabe que foi alimentado por carne seca, farinha de mandioca e ritmo surge ainda com Sérgio Caetano e Jarbas Mariz em 3 guitarras a liderar o som e três vozes a compartilharem letras simples e cheias de significado deambulante como em "Dedo" se Tom Zé não fosse um excelente orador e cuidado professor demoraria mais tempo a alcançar o significado real do conhecimento que se transmite Simplesmente fantástica a sensibilidade de Tom Zé, as letras nas palavras duras e conscientes de crítica acesa com um raro sentido de humor numa sonoridade ousada.

Tom Zé deu o seu concerto-palestra com mostras da origem portuguesa e dos génios narrativo-poéticos com o clímax em "O crime do Padre Amaro". O timing perfeito com o status quo de Eça de Queiroz entre nós. Mostrou como a cultura portuguesa criou e cimentou-se com o melhor da cultura de várias etnias, raças e as suas formas de expressão. E que melhor sitio para rebentar essa fusão que não no Brasil onde Portugal criou cabloca??

Um concerto numa sala cheia que não se calou ao fim de 5 (sim CINCO) minutos de palmas pedindo um segundo encore...esse já não surgiu depois de duas horas de um serão bem passado com histórias do sertão.

Marley family tree

provider: Damian Marley a.k.a. Junior Gong
spot: Coliseu de Lisboa
time: 2230
dose: 120 mins

Damian é o mais novo dos irmãos Marley (sim de Bob Marley), o caçula conhecido como Junior Gong. E tal pai tal filho. Damian começou cedo no reggae e agora está à escala mundial. Essa escalada não se deve ao nome que carrega, mas ao seu trabalho em que o seu irmão Stephen ajuda na escrita, produção e até canta...

Damian veio a Lisboa com o álbum "Welcome to jamrock" fresco como pão acabadinho de sair: muito quente!! Está nos tops mundiais e fez uma paragem em Lisboa com um Coliseu cheio! Entenda-se cheio até cima porque até todos os camarotes estavam cheios...

A banda "The Empire" apresenta-se em palco em número diminuto, comparando com a "Far East Band" de Gentelman e no fim do concerto nota-se que a sonoridade não é a mesma. O som não é tão orgânico nem tão presente, mas nada disso impede que o concerto tenha uma energia própria e muito forte. Prova disso é o bandeira que andou durante todo o concerto com uma bandeira de 2mx1m da Etiópia no ar numa sonoridade é mais sintetizada e funde hip-hop, r&b e o dance-hall com as directrizes do reggae principalmente nas líricas e na voz de Damian. "Welcome to jamrock" é mesmo isso, e daí o sucesso que o dinamic-duo dos irmãos Marley conseguiram. O som é tanto espiritual como em "There for you" como mais r&b em "Beautiful" ou a bater no hip-hop na colabor com Black Thought ou Nas. O dance hall está bem presente no contagiante "Hey girl" e no tema "All night".


A energia de Damian no palco foi acesa por uma multidão ansiosa e energética que cantava as músicas como quem respirava. A boa vibração era muita no coliseu, já há muito tempo não assistia a um concerto no coliseu com a sala tão cheia... Cheia de gente que também foi ver actuar os genes do pai Bob Marley, saiu de lá satisfeito com uma rapsódia de temas de Bob só para quem ouve mais do que o "Legend", o conhecido best-off de Bob Marley & The Wailers... e o coliseu só voltou ao silencio muito depois do esperado encore que as vozes não se calaram enquanto o chão também tremia até Damian voltar com "Road to zion", um dos singles que agrada a rastafarians e hiphopers como o duo Marley gosta e sabe fazer, só faltava Nas a rimar as suas linhas...

Foi daqueles concertos que se vai, sente-se a música á volta a contagiar todos os presentes, todos os que lá estavam: fosse pela moda, pelo nome, pelo reggae, fosse pelo que fosse ninguém sai indiferente ao som e ás letras de Damian que destaco "There for you" e "Babies".

one love


Falta apenas referir que alguma mente brilhante, daquelas que não conseguimos olhar de frente, activou um extintor no meio da plateia, cá atrás perto da cabine de som...nada de grave sem ser a onda de fuga e depois uma espaço enorme para se poder dançar de nariz tapado até voltar o cheiro do reggae...