Tropicalismo português
provider: Tom Zé
spot: Auditório da Culturgest
time: 2130
dose: 120 mins
Tom Zé é daqueles brasileiros longe do universo brasileiro massifivamente difundido por ondas de rádio e via fibra óptica nas televisões e algumas rádios.
De Tom Zé pouco sabia, sem ser o título do seu anterior trabalho que já não me recordava. É daquelas oportunidades em que confiamos em duas coisas, no bom gosto de amigos e no controlo de qualidade de uma entidade fantástica.
Apesar do cansaço acumulado de uma semana pesada, é impossível ficar indiferente a Tom Zé. Ele tem algo de fantástico que une gerações e pessoas de vários backgrounds - consciência. Daquela consciência vicentina, que nos faz rir da ignorância sobre um modo de estar, um modo de viver, um modo de ver o mundo. Tom Zé sobreviveu à ditadura no Brasil (este trecho de história já apareceu em algumas novelas) e explicou como a forma das canções afectavam o estado de poder instituído referindo-se a outros cantautores magníficos como Gilberto Gil ou Caetano Veloso. Ele pertence á mesma geração mas a um movimento diferente, o Tropicalismo!
Da Tropicália ficou-se a saber que tem tataravôs moçárabes, celtas , poesia provençal embalada no sono em Portugal, que a envia concentrada numa cápsula que explodiu com músicas urbano-sertanejas com um toque erudito na composição.
Tom Zé foi prestando depoimentos, ensinando e justificando cada tema, enquadrando-o num contexto social e histórico de reconhecimento da influência portuguesa no nordeste brasileiro. A semente moçárabe que foi alimentado por carne seca, farinha de mandioca e ritmo surge ainda com Sérgio Caetano e Jarbas Mariz em 3 guitarras a liderar o som e três vozes a compartilharem letras simples e cheias de significado deambulante como em "Dedo" se Tom Zé não fosse um excelente orador e cuidado professor demoraria mais tempo a alcançar o significado real do conhecimento que se transmite Simplesmente fantástica a sensibilidade de Tom Zé, as letras nas palavras duras e conscientes de crítica acesa com um raro sentido de humor numa sonoridade ousada.
Tom Zé deu o seu concerto-palestra com mostras da origem portuguesa e dos génios narrativo-poéticos com o clímax em "O crime do Padre Amaro". O timing perfeito com o status quo de Eça de Queiroz entre nós. Mostrou como a cultura portuguesa criou e cimentou-se com o melhor da cultura de várias etnias, raças e as suas formas de expressão. E que melhor sitio para rebentar essa fusão que não no Brasil onde Portugal criou cabloca??
Um concerto numa sala cheia que não se calou ao fim de 5 (sim CINCO) minutos de palmas pedindo um segundo encore...esse já não surgiu depois de duas horas de um serão bem passado com histórias do sertão.
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